sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Maracujá minha Passiflora...



USO DE SUBPRODUTOS DO MARACUJAZEIRO NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL E NAS INDÚSTRIAS FARMACÊUTICA E DE COSMÉTICOS

Milena Galhardo Borguini 1; Aloísio Costa Sampaio 2; Sarita Leonel 3

INTRODUÇÃO

As frutas, além de sua importância na complementação alimentar, fornecem também subprodutos. Neste sentido, caule, folhas, cascas e raízes, podem ser utilizados das mais variadas formas (NASCENTE, 2003).

O maracujá (Passiflora edulis) é originário da América Tropical, muito cultivado no Brasil, rico em vitamina C, cálcio e fósforo. Cascas e sementes de maracujá, provenientes do processo de corte e extração da fruta para obtenção do suco, são ainda, atualmente, em grande parte descartadas. Como este descarte representa inúmeras toneladas, agregar valor a estes subprodutos é de interesse econômico, científico e tecnológico (FERRARI et al 2005).

As folhas, raízes e sementes do maracujá têm propriedades farmacológicas. Na fabricação de sucos geram-se como subprodutos grande quantidade de resíduos, principalmente casca e sementes, que podem ser utilizados na alimentação animal, na produção de óleo e pectina. A casca do fruto pode ser utilizada na fabricação de compotas e na fabricação de farinhas ricas em fibras dietéticas. As sementes podem ser utilizadas na produção de óleos essenciais para a indústria alimentícia e de perfumes (NASCENTE, 2003).

No Brasil, cerca de 90% das cascas e sementes do maracujá viram toneladas de lixo. A casca é rica em pectina, cuja forma sintética é empregada na indústria de alimentos para dar firmeza a doces e geléias. Ela também tem niacina (vitamina B3), ferro, cálcio, fósforo e sódio. E essa riqueza despertou o interesse de empresas para elaboração de produtos naturais que auxiliam no controle da glicemia.

No Brasil, maior produtor mundial da fruta, o principal cultivo é o maracujá amarelo, com um grande potencial para o processamento de bebidas, doces, sorvetes. Reverter o desperdício de matéria-prima em indústrias de processamento de suco e polpa de maracujá é um projeto liderado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro). Isto porque cascas e sementes beneficiadas tornam-se produtos de alto valor agregado nos ramos alimentício e cosmético.

A seguir será relatado uma série de exemplos de uso de subprodutos do maracujazeiro.

Uso de subprodutos do Maracujazeiro na Alimentação Animal

Cascas e sementes de maracujá, resíduos industriais provenientes do processo de esmagamento da fruta para a obtenção do suco, atualmente, são utilizados por produtores rurais na suplementação da alimentação animal, como ração para bovinos e aves, ainda sem muita informação técnica adequada (NASCENTE, 2003).

Segundo CÂNDIDO et al. (2007), a irregularidade de distribuição das chuvas ocorridas na Região Nordeste afeta a produtividade de seus rebanhos, por reduzir significativamente a oferta de alimento volumoso aos animais no período da seca. Portanto, para minimizar esses problemas, pode-se promover a adição de subprodutos de frutos tropicais após sua desidratação à ração animal.

Além de contribuírem para a melhoria do padrão fermentativo das silagens de capim-elefante, muitos desses subprodutos, por apresentarem elevado valor nutritivo, como o subproduto do maracujá, quando adicionados em níveis adequados, podem contribuir para o aumento do valor nutritivo das silagens produzidas (CÂNDIDO et al., 2007). Segundo os autores, a adição de subproduto desidratado de maracujá em níveis de até 14% da matéria natural do capim-elefante durante a ensilagem favorece o processo fermentativo e melhora a composição físico-quimíca da silagem.

FERRARI et al. (2004) verificaram que, pelas características físico-químicas da casca do maracujá, o óleo extraído da mesma pode ser utilizado tanto na alimentação humana e animal, quanto na indústria de cosméticos, tintas, sabões, alimentos e outras, pois apresentava em sua composição cerca de 25,7% do peso do farelo seco obtido, com elevado teor de ácidos graxos insaturados.

Uso de subprodutos do Maracujazeiro na Indústria Farmacêutica

O maracujá possui várias propriedades terapêuticas, com valor medicinal nas folhas e na polpa, que contém a passiflorina, um sedativo natural, além da calmofilase e maracugina. O seu uso como medicamento é um hábito utilizado pela humanidade há muito tempo (LIMA e FANCELLI, 2005).

Outros efeitos, apesar de não estarem comprovados cientificamente, são amplamente divulgados por meio do conhecimento popular, podendo-se listar uma série de usos medicinais do maracujazeiro, tais como, tratamento para: ansiedade, depressão (inclusive por uso de álcool), epilepsia, erisipela, hemorróidas, histeria, inflamações na pele, insônia, neurastenia, perturbações da menopausa, pressão alta, reumatismo, tensão nervosa (LIMA e FANCELLI, 2005).

Muitas propriedades funcionais da casca do maracujá têm sido estudadas nos últimos anos, principalmente, àquelas relacionadas com o teor e tipo de fibras presentes. A casca de maracujá representa 52% da composição da fruta. Desse modo, não pode ser considerada simplesmente como um resíduo industrial, uma vez que suas características e propriedades funcionais podem ser utilizadas para o desenvolvimento de novos produtos (MEDINA, 1980).

A casca do maracujá (parte branca) é rica em pectina, niacina (vitamina B3), ferro, cálcio, e fósforo. Em humanos, a niacina atua no crescimento e na produção de hormônios, assim como na prevenção de problemas gastrointestinais. Os minerais atuam na prevenção da anemia (ferro), no crescimento e fortalecimento dos ossos (cálcio) e na formação celular (fósforo) (GOMES, 2004). Quanto à composição de fibras, a casca do maracujá constitui produto vegetal rico em fibra do tipo solúvel (pectinas e mucilagens), benéfica ao ser humano. Ao contrário da fibra insolúvel, contida no farelo dos cereais, que pode interferir na absorção do ferro, a fibra solúvel pode auxiliar na prevenção de doenças (ROCCO, 1993; BINA, 2004).

Estudos relatam que o consumo de fibra alimentar pode reduzir os riscos de doenças nas populações, destacando-se a prevenção de doenças cardiovasculares e gastrointestinais, tais como: câncer de colón, hiperlipidemias, diabetes e obesidade, entre outras (SILVA et al., 1988; SALGADO et al., 1999).

As fibras atuam na redução da absorção de glicose nas dietas ricas em carboidratos. Assim, os produtos ricos em fibras têm merecido destaque e encorajado pesquisadores da área de alimentos a estudar novas fontes de fibras e a desenvolver produtos funcionais (OU et al., 2002).

A composição e as propriedades físico-químicas da fibra alimentar podem explicar a sua função nos alimentos. Essas informações podem ser aplicadas para a compreensão dos efeitos fisiológicos das fibras. Portanto, o estudo dos teores de fibras (solúvel, insolúvel, bruta e alimentar) e das propriedades físico-químicas do maracujá amarelo é importante para se explorar a potencialidade do uso da casca da fruta como ingrediente de novos produtos (CÓRDOVA et al., 2005).

A agroindústria e a indústria farmacêutica vêm explorando outra potencialidade deste fruto rico em ferro, vitamina C e A, cálcio, e fósforo, através do processamento da farinha de maracujá. O pó gerado a partir da casca do maracujá (a parte branca) é um suplemento indicado como fibra alimentar, pois regulariza a função intestinal e é eficaz no controle da diabetes e colesterol. Isso acontece porque a farinha derivada do fruto conta com 20% de pectina, uma fibra solúvel que junto com a celulose e a liginina compõem a parede celular das plantas.

Segundo estudo realizado na Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a casca da fruta, transformada em farinha, diminui a taxa de açúcar no sangue e impede que o organismo absorva a gordura dos alimentos, fazendo com que a pessoa perca peso. Esse efeito é devido à pectina, que ao ser ingerida forma um gel no organismo, dificultando a absorção de carboidratos. Portanto, a farinha de maracujá atua reduzindo a taxa de glicose, colesterol e auxiliando em programas de emagrecimento e no controle da diabetes.

O consumo da farinha deve ser diário. Podendo ser adicionada em sucos, iogurtes, saladas e sopas.

O Grupo Centroflora, localizado em Botucatu - SP é pioneiro no desenvolvimento dos extratos secos de plantas medicinais, por processo de secagem por atomização, destinados à indústria farmacêutica, que até então conhecia apenas extratos líquidos, os quais eram transformados em comprimidos após um difícil processamento tecnológico. Esta descoberta foi considerada à época uma grande inovação no ramo farmacêutico, propiciando à Centroflora o crescimento e firmação como empresa líder na produção de extratos vegetais na América Latina, que fornece matérias primas de origem conhecida, empregando exclusivamente solventes recicláveis e atóxicos. A empresa trabalha com diversos extratos, que são utilizados no setor farmacêutico e de cosméticos. Entre eles está o extrato de maracujá, que se apresenta como: extrato seco padronizado de Passiflora incarnata Linné (flavonóides totais: mínimo 3,5%) e extrato fluido padronizado de Passiflora incarnata Linné (teor de flavonóides: 0,36 - 0,44%).

Uso do Maracujazeiro na Indústria de Cosméticos

O óleo de maracujá é extraído da semente do fruto, o percentual de óleo obtido está em torno de 25%, sendo este de cor amarelada, sabor agradável e odor suave característico (CAMPESTRE, 2005).

O óleo de maracujá apresenta rica composição de ácidos graxos, auxiliando na restauração da camada lipídica da pele e conferindo emoliência através da formação de um filme, deixando a pele macia. Além disso, este óleo possui substâncias relaxantes, como a passiflorina, com aroma que reduz a ansiedade, melhora o sono, diminuindo o stress e o cansaço em geral.

O óleo de maracujá tem uma aplicação muito variada na indústria cosmética, tais: cremes, xampus, loções, óleos, sabonetes, entre outros. O óleo também pode ser usado tanto na alimentação humana e animal, quanto na indústria de tintas, sabões, alimentos e outras (CAMPESTRE, 2005).

O uso do óleo de maracujá em cosméticos para cabelos é indicado para hidratar, alisar e restaurar os fios quebradiços, dando vida e força aos mesmos, indicado para cabelos quebradiços, ressecados e que precisam reduzir o volume.

Considerações Finais

A utilização dos subprodutos do maracujazeiro, na alimentação animal, indústrias farmacêutica e de cosméticos, implica na maximização do uso do fruto, uma vez que este possui propriedades importantes, conforme os diversos estudos citados.

Sendo o Brasil o maior produtor de maracujá, o grande volume de material que seria considerado apenas como resíduo nas indústrias processadoras do fruto, passa a ser produtos com alto valor agregado.

Referências Bibliográficas

CÂNDIDO, M.J.D; NEIVA,J.N.M ;RODRIGUEZ,N.M;HOLANDA,A.C FERREIRA. Características fermentativas e composição química de silagens de capim-elefante contendo subproduto desidratado do maracujá. Rev. Bras. Zootec., v.36, n.5, 2007.
CAMPESTRE IND. E COM. DE ÓLEOS VEGETAIS LTDA. Óleo de maracujá. Disponível em: . Acesso em 17 ago. 2008.

CÓRDOVA, K.R.V.; GAMA, T.M.M.T.B.; WINTER, C.M.G.; KASKANTZIS NETO, G.; FREITAS, R.J.S. Característica físico-quimicas da casaca do maracujá amarelo (Passiflora edulis Flavicarpa Degener) obtida por secagem. B. CEPPA, v. 23, n. 2, 2005.

FERRARI, R.A.; COLUSSI, F.; AYUB, R.A. Caracterização de subprodutos da industrialização do maracujá: aproveitamento das sementes. Rev. Bras. Frutic, v. 26, n. 1, p. 101-102, 2004.

GOMES, C. Pó da casca do maracujá. Disponível em: . Acesso em 20 ago. 2008.

LIMA, A.A.; FANCELLI, M. Maracujá: uso medicinal. Disponível em: . Acesso em 17 ago. 2008.

MEDINA, J.C. Alguns aspectos tecnológicos das frutas tropicais e seus produtos. São Paulo: Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, 1980. 295 p. (Série Frutas Tropicais).

NASCENTE, A.S. Aproveitamento de subprodutos de frutas. Disponível em: . Acesso em 15 ago. 2008.

OU, S.; KWOK, K.C.; LI, Y.; FU, L. “In vitro” study of possible role of dietary fibre in lowering postprandial serum glucose. Journal of Agricultural Food Chemistry, v.49, p. 1026-1029, 2001.

ROCCO, C.S. Determinação de fibra alimentar total por método gravimétrico não-enzimático. Curitiba, 1993, 102 p. Dissertação (Mestrado), Departamento de Engenharia Química, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

SALGADO, S.M.; GUERRA, N.B.; MELO FILHO, A.B. Polpa de fruta congelada: efeito do processamento sobre o conteúdo de fibra alimentar. Revista de Nutrição, v.12, n.3, p. 303-308, 1999.

Outros sites consultados

http://www.ambienteemfoco.com.br

www.frutas.radar-rs.com.br

http://www.brazilianfruit.com.br/

www.centroflora.com.br

Trabalho enviado ao TodaFruta para publicação em 05/11/08

1 - Engenheira Agrônoma e Mestranda em Horticultura pela FCA – UNESP, Botucatu (SP).
2 - Docente do Depto de Ciências Biológicas – UNESP- FC/Bauru e do Curso de Pós-graduação em Horticultura, FCA - UNESP Botucatu (SP).
3 - Docente do Depto de Produção Vegetal e do Curso de Pós-graduação em Horticultura, FCA – UNESP, Botucatu (SP).

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