segunda-feira, 30 de maio de 2011

Home brewers - Santa cerveja em casa...

Recentemente, a cervejaria Petrópolis divulgou, junto com o lançamento de um novo rótulo, uma pesquisa sobre o crescimento das cervejas especiais no Brasil: 20% contra 4% do mercado das cervejas comuns. O interesse pelos produtos artesanais e de microcervejarias, que oferecem mais personalidade e tipos da bebida, cria um outro foco de atenção que corre em paralelo, o das cervejas caseiras.

Malte: cerveja varia de acordo com os tipos e as proporções de maltes usados na receita
Sem pesquisas e números oficiais para endossar, o aumento dos chamados ‘home brewers’ é notado pela movimentação dentro do universo cervejeiro. Em sites, redes sociais, confrarias e associações, é sensível o interesse cada vez maior do consumidor da cerveja premium de experimentar a sua própria produção ou degustar a de outros cervejeiros amadores.

Bom termômetro, a criação de uma associação voltada à cultura da cerveja caseira confirma o crescimento do nicho. A iniciativa partiu de uma comunidade da rede social Orkut, que foi ganhando mais adeptos e tornou-se oficial. A primeira a ser fundada, no Rio de Janeiro, cunhou a sigla Acerva (Associação de Cervejeiros Artesanais). Logo, São Paulo e outros sete estados seguiram o exemplo e aderiram ao nome. Cada Acerva funciona de maneira autônoma, algumas cobram mensalidade, outras não e cada uma tem seu estatuto. Mas o objetivo e as ações de todas são semelhantes: realizar cursos, promover encontros, produções coletivas e degustações.

“Começamos a abrir alguns encontros também para aqueles que ainda não produzem cerveja caseira, mas têm interesse no assunto. É uma forma de as pessoas conhecerem essa atividade”, conta Philip Zanello, um dos diretores da Acerva paulista.

O engenheiro Jaime Pereira Filho, proprietário do bar paulistano Píer 1327, localizado na Vila Mariana, está espantado com o brusco aumento da procura pelo curso de cerveja caseira que ministra no bar há pouco mais de dois anos. “É um curso rápido, que ensina todo o processo em duas aulas. Eu costumava ter uma turma por mês, agora é diário e há uma fila de espera de três meses para os interessados”, comenta. Um desses alunos foi o fotografo Leo Feltran, que registrou a sua produção caseira para ilustrar essa matéria.

Ainda que tenha ares de novidade, a produção das cervejas no quintal de casa é algo muito antigo, vem dos mosteiros seculares que já fabricavam a bebida bem antes de serem criadas as primeiras grandes cervejarias. Na Idade Media, cabia aos padres e às mulheres este preparo, que era parte da dieta cotidiana de proletários e burgueses. Quem é “convertido” ao universo da cerveja caseira leva a diversão a sério. Se produzir uma cerveja básica é questão de saber seguir a receita (veja o infográfico acima), criar bebidas com características peculiares e estabelecer algum padrão torna-se um grande desafio. Para quem quer seguir a lei de pureza alemã, que só permite o uso dos ingredientes básicos na composição (água, malte de cevada, lúpulo e fermento), é possível variar o resultado de acordo com o tipo de malte e lúpulo usado, além das quantidades utilizadas, que vão definir um sabor mais adocicado ou mais amargo, mais tostado ou mais frutado, entre outras características sensoriais. Para quem quer dar um passo além, vale adicionar quase tudo à mistura, de anis à rapadura. “Um dos diretores da Acerva paulista criou uma cerveja com funghi seco e achei que ficou bem interessante. Recentemente eu fiz uma com chocolate que em cada tiragem recebia um outro componente para combinar: extrato de coco, amêndoas ou framboesa”, diz Zanello ao lembrar de rótulos inventivos. Tanta criatividade precisa ser deixada de lado nos concursos que começaram a fazer parte do calendário cervejeiro, onde só alguns estilos podem concorrer. A restrição facilita o trabalho dos jurados de comparar produtos semelhantes.

Um desses campeonatos ocorreu em julho, promovido pela Acerva Paulista e pela microcervejaria Bamberg, de Votorantim, interior de São Paulo. Na ocasião, 31 cervejeiros caseiros do estado competiram com suas receitas, restritas ao estilo inglês conhecido como ESB. Um juri de treze experts deu as notas que sagraram Guilherme Alberici Di Santi campeão. O prêmio? Ter sua cerveja produzida pela Bamberg durante um ano.

A Eisenbahn é outra que homenageia a produção caseira: pelo terceiro ano, o melhor mestre cervejeiro amador, segundo competição organizada pela microcervejaria, ganha uma linha especial produzida na fábrica. Em 2010, o rótulo São Sebá, uma Belgian Dubbel criada pelo paranaense Sandro Singer, chega ao mercado em novembro em uma série limitada de 3.000 garrafas. Para além da diversão, o sucesso obtido com um rótulo caseiro pode significar uma mudança do hobby para uma possível profissão. O designer gaúcho Maurício Gonçalves vive exatamente essa situação. Ele e o irmão Lúcio começaram a produzir cerveja caseira por diversão no ano passado, mas a bebida foi fazendo sucesso com amigos, ganhou rótulo e caiu no boca a boca dos cervejeiros.

Hoje, o rótulo Goyoaga Euskal Garagardo (nome basco em homenagem às origens da família), uma pilsen sem clarificantes e não pasteurizada, é produzida de duas a cinco vezes por semana e vendida em bares da Cidade Baixa, região boêmia de Porto Alegre. “Já fornecemos até para um evento de lançamento de livro em junho deste ano, quando foram consumidos 60 litros”, conta Mauricio orgulhoso.

Lúpulo: é responsável por conservar e definir o nível de amargor da cerveja

Quem quer se aventurar pelo mundo das cervejas caseiras deve ter algum conhecimento e estrutura. O mais indicado é acompanhar o trabalho de algum conhecido que faça a cerveja para ver se a atividade realmente lhe atrai – é preciso lembrar que produzir cerveja caseira requer tempo, dedicação e investimento. Não se trata só de beber. Em seguida, um curso rápido dá a base necessária que só o tempo – leia-se erros e acertos – vão aprimorar a técnica de “mestre cervejeiro”.

Mas, para produzir sua própria cerveja é preciso montar uma nanocervejaria em casa. Jaime Pereira diz que o kit básico tem custo aproximado de 500 reais e ocupa o mesmo espaço que um botijão de gás. O “maquinário” consiste de duas panelas grandes de alumínio, uma balança, uma colher grande de polipropileno, um termômetro culinário, uma peneira, um fermentador (um balde hermeticamente fechado com saída de válvula e uma torneira para engarrafar), mangueiras de transferência, um densimetro, um dispositivo para fechar garrafas e um moedor de cereais.

Montada a “fábrica”, é preciso buscar os insumos, não tão fáceis de serem encontrados em todo o Brasil. “Não há lojas que vendam malte e lúpulo em São Paulo, por exemplo. Mas há fornecedores do Rio Grande do Sul que distribuem os produtos via internet”, sugere Jaime. O estado é onde a cultura da cerveja caseira se nota mais presente, certamente pela influência da comunidade alemã na região.

A dificuldade de encontrar malte, fermento e lúpulo não significa o custo alto do produto. “Gasta-se cerca de 50 reais em matéria prima para produzir 20 litros de cerveja caseira”, estima Jaime. Além de divertida, a produção é a forma de consumir uma cerveja não-pasteurizada, que permanece em transformação“. Os microorganismos ficam vivos na garrafa e continuam em ação. A cerveja fica maturando e vai mudar de características a cada semana que ficar armazenada”, conta Jaime.

Receita básica da cerveja caseira
Fonte: Jaime Pereira Filho. Fone: (11) 2597-7231

Ingredientes
- 35 litros de água mineral de boa procedência
- 6 quilos de malte claro e escuro
- 20 gramas de lúpulo
- 11,5 gramas de fermento
Links para consulta:
www.acervapaulista.com.br





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