terça-feira, 19 de agosto de 2008

Prático canteiro espiritual



A agrônoma Sandra Rossino ganha sua vida no meio das flores. Ela é uma das pessoas que cuidam, sob orientação do doutor Catarino, da coleção de 18 mil orquídeas do Jardim Botânico de São Paulo - este, sempre limpo e bonito. Mas a doutora Sandra tem um gosto especial: criar "canteiros espirituais", como ela chama a plantação de uma área com as sete ervas que curam mau-olhado. Ultimamente, porém, ela mudou o conceito para uma "mini-horta de cura".

"Se a pessoa tem terreno para plantar as sete ervas, basta um pequeno esforço adicional para ter em casa uma coleção muito útil de plantas medicinais, acrescentando às sete pelo menos três espécies de uso quase diário: boldo, capim-limão e melissa", diz.

Boldo é aquela coisa boa para se tomar, num macerado com água fria ou gelada, após uma refeição pesada ou depois de ter comido alguma coisa que se está mostrando incômoda no estômago ou de difícil digestão. Capim-limão, em alguns lugares também chamado de erva cidreira de folha fina, bom para chá, é aromático, purificador, deixando sempre uma sensação de bem estar. E a melissa, também para chá, tem efeito calmante e tranqüilizador.

Na hora de fazer o canteiro, Sandra recomenda um bom preparo da cova (já com esterco de gado ou terra orgânica), distância de 80 centímetros entre uma muda e outra e só deixar terra até a altura da raiz, sem encobrir o caule. Regar bastante no primeiro dia, seguir com água depois, renovar adubação em 15 dias e cuidar bem, evitando as plantas invasoras. Com essa hortinha no terreiro, diz ela, a pessoa estará se protegendo do olho gordo e ainda terá pelo menos essas três espécies medicinais tão úteis.

Jade Andrade, gerente do Garden Center Tatuapé, em São Paulo, diz que saem, por semana, de seu estabelecimento, de 250 a 300 vasos prontos (com as sete ervas) e de 1,5 mil a 2 mil mudinhas individuais. Mudas a 1 ou 1,50 real. Vasos, dependendo do tamanho e da altura das mudas, de 11 a 60 reais.

Ativa e bonita, Silvia Bueno de Azevedo é dona de um viveiro de mudas "espirituais" ao lado da Marginal do Tietê, SP. Além de seu trabalho, conta com três empregados para dar conta de produzir as plantas, que fornece semanalmente a um "garden center" da capital paulista . Ela diz que as pessoas têm um gosto particular em fazer, elas mesmas, seu vaso de 7 ervas, e se dispõe a ensinar (veja quadro abaixo).
"Já que o vaso é um compromisso pessoal, nada melhor que a própria 'vítima' para cuidar dele", comenta Silvia.

botânica mágica das 7 ervas



1 COMIGO-NINGUÉM-PODE
Há mais de 100 variedades de plantas (tipo um antúrio) com esse nome. No Brasil, é a planta básica das 7 ervas; em Belém do Pará, segundo pesquisa recente, está presente em quase 50% das casas. As manchas brancas no meio das folhas são um aviso de perigo aos herbívoros: "Não me coma".

Comigo-ninguém-pode é planta tóxica, com efeitos dolorosos caso alguém ponha na boca, não precisando nem engolir. Basta a mastigação de um pedaço para provocar imediata reação. Em pessoas alérgicas, o simples contato com a folha é suficiente para fazer mal. Particularmente perigosa em local com criança.
"É o tipo da planta para não se ter em casa", diz o professor Marcos Furlan.

2 ESPADA-DE-SÃO-JORGE
Se a primeira contém risco, essa espada não faz mal a ninguém. Muitos até a utilizam com fins medicinais, pondo-a como escora em baixo do colchão para corrigir defeito de coluna. Embora não seja de origem africana, foi de tal modo adotada nos ritos afros que hoje é, neles, presença obrigatória. Planta rústica, dá-se bem em qualquer lugar e nos vasos vai tomando espaço, dependendo de contínuo desbaste para ser contida e não sufocar as outras.

3 GUINÉ (PITI)
Originária da floresta amazônica, a guiné acabou sendo levada para a África, onde ganhou o nome de "planta do Congo". Os escravos, no Brasil, cedo notaram que a guiné contem um princípio venenoso, que acabaram usando em poções para enfraquecer senhores que se mostravam especialmente cruéis ou que abusavam da mulher ou das filhas dos cativos. Esse uso deu à guiné um apelido: "amansa patrão".

O veneno é muito fraquinho, de forma que, para fazer efeito, devia ser ministrado por muito tempo, o que levava a uma observação contínua do estado físico do senhor para ver se ele já estava emagrecendo, ficando amarelo, fraco, para confirmar que a poção estava funcionando direito...

4 ARRUDA
Das sete ervas rituais, a arruda é, ao lado do alecrim, a mais antiga. Nativa da região do Mediterrâneo, tem várias citações na Bíblia, como em Lucas
(cap. 12, vers. 42) em que é tratada como moeda, servindo - junto com a hortelã - para pagar dízimo.

Diz um samba antigo: "Se eu fosse você/punha um galhinho de arruda atrás da orelha/pra não matar esse encanto/que é doce como mel de abelha/Todo mundo lhe olha,/você pega um mau-olhado...". Se veio da Europa, a arruda ganhou no Brasil esse costume de ser colocada na orelha. No tempo do Império, havia, como pode ser visto num quadro de Debret, um forte comércio de arruda no Rio de Janeiro, então capital federal. Esse uso espalhou-se pelo Brasil.



5 MANJERICÃO
Vindas da Ásia e da Europa, há no Brasil perto de 100 variedades de manjericão, também chamado de alfavaca ou basílico. É uma planta aromática e comestível, muito valorizada em certo molho de macarrão (al pesto).
Todos os manjericões dão flores com muito néctar, o que faz a festa das abelhas.

6 ALECRIM
Como a arruda, muito referido em textos antigos, antes até da Bíblia. Evangelhos não reconhecidos afirmam que o alecrim tem três "coincidências" com a vida de Jesus:
1. a planta só vive 33 anos, idade de Cristo;
2. sua altura máxima é também a do messias;
3. os olhos de Jesus, de um tom azul-claro, são da cor da flor do alecrim.

O botânico Marcos Furlan diz que, em sua experiência como pesquisador, nunca viu um pé de alecrim durar mais de 20 anos, já viu planta com dois metros e meio de altura e, quanto aos olhos de Cristo, nunca soube de fonte segura de que cor eles eram.
Planta aromática, o alecrim já serviu para dar sabor especial a vinhos e é uma das preferidas para produzir fumaça em defumações rituais.

7 PIMENTA
A pimenta é retoricamente o último bastião de um conjunto de sete ervas, de tal modo que, para morrer, é preciso que a mandinga seja mesmo forte. Só um mau-olhado excepcional seria assim tão nefasto para se transformar num "seca-pimenteira".

Rústica e resistente, a pimenteira não é, no entanto, a última a morrer num vaso de sete. Ela tem um ciclo vital determinado e, cumprido esse tempo, ela fenece, enquanto, a seu lado, estão ainda vigorosos o alecrim, a comigo e a espada-de-são-jorge, que normalmente são as três sobreviventes de um vaso originalmente com sete mudas. Há uma grande variedade de pimentas, mas as que mais se usam num vaso 7 ervas são cumari, dedo-de-moça e pimenta-de-bode.

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